Momento para uma Reflexão


Estes capítulos que tenho vindo a publicar, são modestos contributos pessoais, que têm como objectivo o reconhecimento público para o importante protagonismo que Almeirim teve, na História de Portugal.
Termina com os graves danos que afectaram o Paço Real, decorrentes do terramoto de 1755, uma fase crucial da evolução desta muito digna e importante Vila de Almeirim.
Almeirim deixará a partir de então, de ser sede do reino ou simplesmente habitação dos reis de Portugal.

Almeirim não foi apenas a “Sintra do Ribatejo ou de Inverno”, foi muito mais importante o seu protagonismo na História de Portugal e até do Mundo, do que esta tradicional adjectivação, que satisfez alguns dos seus cronologistas.

Almeirim foi durante cerca de 150 anos, praticamente toda a 2ª Dinastia, um dos principais centros de decisão da política mundial e principal sede da governação portuguesa e que durante essa época construiu um Império espalhado por todo o planeta.

Foi por ter perdido as suas referências patrimoniais, que o reconhecimento português para com Almeirim, ficou irremediavelmente esbatido.
Também se esbateu a memória do passado nos seus próprios habitantes.
Almeirim perdeu o seu carisma de outrora, porque não conseguiu manter visível qualquer referência ao seu passado heróico e glorioso.

Recuperar essas referências é assim um passo determinante, para a recuperação desse carisma, que tantas oportunidades novas, poderá originar e que reforçará certamente o orgulho próprio, de todos os almeirinenses.

Haverá muito poucas cidades de Portugal, que suplantem ou equiparem com Almeirim, no protagonismo da História de Portugal. Porém há muitas dessas cidades, que pelo património que mostram e divulgam, são importantes centros de estudos académicos e pólos de interesse turístico e cultural.

Construir uma “maquete” da Vila Real de Almeirim, seria uma obra com um enorme valor referencial.
Mas poderíamos ir um pouco mais longe…
As modernas tecnologias, em particular a informática abrem hoje a possibilidade de recriar todo esse património destruído e também as vivências dessas épocas.
É o que em todo o mundo civilizado se faz através dos chamados Centros Interpretativos da História.

Recriar Almeirim antiga, com os seus Paços e a sua Coutada, com a Ermida e a Pousada de S. Roque, com os Conventos da Serra e da Ordem Terceira de S. Francisco, com a sua Igreja quinhentista, com a Capela Real, a Horta e as Cavalariças, com os Palácios e com os seus bairros iniciais de servidores, é absolutamente possível e diria essencial.

Realizar este projecto, seria desde logo um enorme benefício, pois ele exigiria estudos rigorosos, mobilizando-se académicos, historiadores, recolhendo-se e classificando-se informação, que só por si já representaria uma enorme importação de dinâmica cultural e também de mobilização local.

Expor toda esta importantíssima referência em lugar público seria originar todo um vasto leque de reacções em cadeia, desde novas motivações empresariais para a terra, passando pelo mais importante que era a possibilidade de melhorar substancialmente a formação dos nossos filhos, a recuperação da memória colectiva e um substancial reforço na dinâmica turística.

Almeirim prosseguirá a sua história até aos dias de hoje, e muita coisa de importante para Portugal, continuará a ter nesta terra abençoada, a iniciativa de um protagonismo de elevadíssima importância e que infelizmente, é a parte da sua história magnífica, menos divulgada e valorizada.
Esta nova fase talvez seja porém mais atractiva, pois começarão a surgir como protagonistas alguns dos nossos antepassados e também muitas recordações de muitos, que ainda hoje felizmente, estão entre nós.
Continuaremos em próximos capítulos, a tentar no mesmo jeito de síntese, a transmitir esse conhecimento, que fui procurando adquirir, ao longo de vários anos de estudos, de conversas e de pesquisas, motivado pela paixão pela minha terra, pelo espaço onde fui educado e pelo ambiente, que contribuiu decididamente para a minha formação humana.

Mas impunha-se neste momento crucial da História de Almeirim, fazer uma pequena reflexão. Pois tudo isto só terá sentido se originar uma dinâmica de acção, que proporcione as condições para realização de um projecto, que vise recuperar Almeirim do caminho da vulgaridade e constitua motivação essencial para a recuperação do seu lugar de excelência e distinção.

A última estadia da Corte em Almeirim - História de Almeirim (16)



Carta das Montarias da vila de Santarém e da Coutada de Almeirim (1775)
O reinado de D. João V, não foi muito favorável às vivências no Paço de Almeirim.
Os novos hábitos sociais copiados da corte francesa, não eram agora muito compatíveis com a austeridade arquitectónica do Paço de Almeirim e também eram muito diferentes relativamente às tradições nacionais, que tinham tido forte expressão nesta Vila Real.
O Príncipe das Beiras D. José, futuro rei mantinha porém esses gostos antigos, pois era exímio cavaleiro e também aficionado à arte portuguesa da tauromaquia.
Por esse facto D. José frequentou Almeirim e também o Paço de Salvaterra.

O terramoto de 1755, foi dramático para a Vila Real.
O Paço sofreu danos importantes e a Capela Real acabou mesmo por ruir.

Os nobres que aqui tinham património logo reagiram e tentaram que o Rei D. José I, determinasse a recuperação dos edifícios afectados.
Foi uma longa acção de tentativa de influência na Corte, que acabou por ter o efeito do Rei decidir vir até Almeirim para verificar os estragos ou talvez com esta sua decisão tentar impor o seu desejo de recuperar o Paço real.

Não tendo o Paço condições para receber a visita real e sua comitiva foi um rico almeirinense, que disponibilizou a sua habitação para D. José se instalar.
D. Gastão da Câmara Coutinho, senhor das Ilhas desertas e da Taipa, era estanqueiro em toda a região (monopolista da distribuição de tabaco) e essa sua qualidade dava-lhe suficiente dinheiro para ter tido de imediato condições para recuperar a sua própria casa, também ela afectada pelo terramoto.
Como esse palacete recuperado serviria para instalar o Rei e sua comitiva, D. Gastão construiu de raiz uma casa para nessa altura de instalar a si próprio e a sua família.
Esta última habitação, é a casa onde hoje vivo e que meu trisavô comprou a um dos netos de D. Gastão, mantendo em traços gerais o aspecto exterior dessa época, ou seja 1765.
A casa onde D. José se instalou nesse ano de 1767, sofreu modificações exteriores de alguma monta e que lhe alteraram significativamente a sua traça, mas mantém, ao que sempre me foi dito, a mesma imponência que teria nessa época. É uma casa que também foi comprada pelo meu trisavô, a um dos netos de D.Gastão, que passou a ser a habitação de sua família e depois de herdada por um dos seus netos, Vasco Santo Andrade, veio a ter a remodelação já na década de 40 do século XX.

Esta estadia no ano de 1767, do Rei D. José, veio a ser a última estadia da corte, na Vila Real de Almeirim.
Por um lado a recuperação da baixa lisboeta foi a prioridade do Marquês do Pombal, por outro pelo facto dos estragos do Paço de Salvaterra terem sido menores, perante as limitações orçamentais, a recuperação do Paço de Almeirim, foi preterida.

Nessa época em que era almoxarife e primeiro responsável pela Coutada, João da Mota Cerveira, é nomeado Pedro Gualter da Fonseca como mestre-de-obras do Paço, o que ainda permite que alguns mantivessem a esperança da recuperação..
Porém, essas obras deixaram de ter verbas para a sua concretização.
Pouco tempo depois, talvez entre 1772 e 1774, é retirado do Paço de Almeirim, com destino ao Palácio de Sintra, o enorme fogão em mármore, que é uma impressionante obra do renascentismo.
Este acto, marca na prática o fim do Paço Real de Almeirim, como aposento dos reis de Portugal.

D. José antes de morrer, quis prestar uma homenagem à família servidora dos Mota Cerveira, ao fazer publicar no ano de 1777, a Carta de brasão de armas ao bacharel José da Mota Cerveira, cavaleiro fidalgo, filho do anterior almoxarife do Paço.
A família Mota Cerveira, ainda hoje tem vários descendentes directos como habitantes da cidade de Almeirim e deverá ser assim, talvez a mais antiga, das famílias tradicionais da terra.


da Vila Real à nobre Vila Rural - História de Almeirim (15)

D. Jaime o 3º Duque de Cadaval

As demonstrações de coragem do infante D. Pedro, futuro rei de Portugal, ao agarrar os toiros pelos cornos, vieram a ocasionar mudanças substanciais na forma de lidar toiros nos festejos tauromáquicos.
Nos limiares do século XVIII, passaram os cavaleiros nobres a tourear a cavalo, mas depois apeando-se rematavam essa lide matando os toiros a pé e de espada.
Esta era uma forma muito mais impressionante e emotiva de enfrentar o toiro e de lhe dar a morte. Esta emoção renovada, veio a ter como consequência uma popularidade acrescida das corridas de toiros.
Foi uma nova fase de rejuvenescimento da tauromaquia que viria a ter, mais uma vez, como palco dominante a Vila Real de Almeirim.

A grande personalidade do toureio equestre deste século é D. Jaime, o 3º Duque de Cadaval (1684-1749).
Os lugares onde ficam registadas para a história as suas maiores actuações são a Praça da Junqueira em Lisboa e a Praça de Madrid. Crónicas da época dizem que quando D. Jaime actuava, havia sempre Praça cheia e que a Junqueira teria uma lotação de mais de 12.000 pessoas.
D. Jaime é reconhecido também como um grande toureiro a cavalo e um grande estoqueador, por muitos cronistas espanhóis da época.
Ele toureou até às vésperas de sua morte.
Mas D. Jaime não foi apenas um toureiro, ele é a primeira referência portuguesa a criar toiros de lide através de uma selecção apurada. Ou seja, ele é o primeiro dos ganadeiros a seleccionar com critério, visando a nova forma de tourear.
Esta sua ganadaria é instalada em Almeirim, nas charnecas da Ribeira da Muja (Muje), muito provavelmente a partir de vacas, que pastavam de forma selvagem na coutada real e nos limítrofes.
O facto de D. Jaime se instalar em Almeirim deve estar realcionado com o facto de ter sido casado com D. Luísa de Portugal, filha do Rei D. Pedro II.
D. Luísa casou em primeiras núpcias com D. Luís Ambrósio de Melo, o 2º Duque de Cadaval e irmão de D. Jaime, que morreu muito novo. Porém é muito natural de que todo o património da Casa Cadaval tenha sido oferecido de dote pelo Rei neste primeiro casamento, sendo portanto consistente a hipótese de todo esse vasto património ter sido um destacamento das montarias vizinhas à Coutada Real de Almeirim.
Ao instalar-se nas imediações de Almeirim, D. Jaime centraliza para as proximidades toda uma apetência de outros nobres e Lavradores, que também quiseram iniciar-se na criação de toiros bravos. Outra ganadaria referenciada na mesma época é a de Rafael José da Cunha, que deveria estar sedeada também nos limites da coutada de Almeirim, entre Alpiarça e a Chamusca.
Mais tarde muitos outros nobres, irão adquirir na jurisdição de Almeirim terras, para instalarem nelas as suas ganadarias.

Não se pode afirmar com muita consistência que esta nova procura de terras para instalar ganadarias, tinha um objectivo de actividade económica, pois os toiros não eram ainda nessa época vendidos e a sua carne era normalmente oferecida, para Instituições de caridade. Mas contribuíram para manter algum emprego e atraíam visitantes aos festejos tauromáquicos e por esse facto incrementaram o comércio. Por outro lado esta nova forma de criar animais, veio sim motivar a criação de gado bovino para venda no mercado, para trabalhos de tracção e de transporte.

Almeirim foi assim o centro onde se instalaram as primeiras ganadarias portuguesas e também passou a ser um importante centro de treinos dos grandes cavaleiros toureiros e onde se realizavam muitos e importantes espectáculos tauromáquicos.
Passou também a ser um importante centro de criação de bovinos para a tauromaquia, para o trabalho e para o transporte.

A nova vocação do Paço de Almeirim – História de Almeirim (14)

Durante o período “Filipino” os nobres que em Almeirim possuíam terras e casas, pela motivação de aqui ser local de frequência da Corte, deixaram de as frequentar e cederam direitos a rendeiros ou atribuíram forais a servidores.
Degradou-se assim muito património local, por ausência de motivação para a manutenção, mas garantiu-se um mínimo de vivência social.

Foi D. Pedro II, quem voltou a frequentar o Paço Real.
Ainda como Infante e proprietário de toda a “Casa do Infantado” por mercê de seu pai que a fundou através dos bens confiscados aos nobres que foram considerados traidores por terem estado ao serviço dos Filipes.
Este Infante teve uma presença assídua no Paço de Almeirim, mas também no de Salvaterra, motivado pela sua paixão, que eram mais uma vez as Corridas de Toiros e as lides tauromáquicas.
D. Pedro, filho de D. João IV, desde muito jovem que foi um grande entusiasta das lides tauromáquicas, tendo sido toureiro a cavalo e também considerado o primeiro português a pegar os toiros pelos cornos, ou seja iniciador da tradição genuinamente nacional, do Pegador de Toiros ou Forcado, como muito mais tarde se passou a chamar.
Foi D. Pedro II, que mandou transladar o corpo do Cardeal de Almeirim, para os Jerónimos em Lisboa.
Foi ainda D. Pedro II, que através de carta aos moradores de Almeirim, dá o primeiro sinal de emancipação relativamente à propriedade real, ou seja dá a abertura para a sociabilização e dinamização económica da vila, que irá permitir a sua evolução.
Esta emancipação foi feita de acordo com algumas garantias, nomeadamente ao nível da permanência temporal e de alguns serviços, os habitantes e servidores do paço, poderiam passar a beneficiar de direitos de propriedade hereditários, na propriedade real.
Era assim, o início da possibilidade de estabelecimento em Almeirim e simultaneamente de aumento do número de seus habitantes.
Enfim de uma nova e moderna motivação para o seu crescimento, preservação e evolução.

D. Pedro II é assim o primeiro responsável pela nova imagem de Almeirim.
É a imagem que mais vulgarmente é passada…
Almeirim a “Sintra de Inverno”, onde a Casa Real passava algumas temporadas de descanso e recreio.
Infelizmente esta é a imagem mais divulgada, mais fútil e menos apreciada, que menospreza o importante protagonismo histórico e cultural de Almeirim, durante toda a dinastia de Avis.

Foi porém muito importante para Almeirim que os reis voltassem a aqui estabelecer-se e motivou muitos dos habitantes locais a aqui permanecerem.
Tudo isto é evidenciado na primeira e segunda década do século XVIII, através autorização de D. João V, de pagar a instalação de um médico e um boticário na Vila e pela instituição da feira franca de S. Roque.
Também nomeia Arquitecto e disponibiliza verbas para obras no Paço, dando assim a indicação a sua família e aos seus descendentes da vontade de continuar a manter esta nova vocação de Almeirim, ser local de estância da família real.

Apoio aos "Conjurados" - História de Almeirim (13)

Portugal estava empobrecido após 60 anos da governação Filipina.
Perdêramos muitas das possessões ultramarinas e o controle das rotas marítimas.
Os Holandeses e os Piratas, beneficiavam agora da nossa incapacidade de gestão.
As promessas de Filipe I, de dar tensas a muitos fidalgos e de nunca colocar estrangeiros na governação de Portugal, já há muito que não eram cumpridas.
A castelhana Duqueza de Mantua, era a Vice Rainha de Portugal.
Os descendentes e herdeiros da nobreza, que havia sido subornada, estavam agora revoltados e os sentimentos nacionalistas tinham voltado aos seus espíritos.
Chamaram-lhes “os Conjurados” a esse grupo de nobres, cujos antepassados não quiseram sentir o “Espírito de Almeirim”, mas que agora se determinavam a seguir a vontade do povo.
Durante dois anos tentaram em vão mobilizar a vontade do Duque de Bragança e herdeiro legítimo de Dona Catarina, para assumir a responsabilidade de uma revolta.
D. João era um dos mais ricos homens de toda a península e também um dos mais influentes. Bastará referir que tinha um exército pessoal de cerca de 13.000 homens.
Mas D. João era também um homem sensato e não embarcou em aventuras precipitadas. Chegaram os Conjurados a propor uma Republica de Nobres e também que D. Duarte de Bragança, o Marquês de Trevilha, tio de D. João, aceitasse a liderança da revolução.
A oportunidade surgiu quando Filipe IV se viu envolvido entre duas frentes de guerra, no sentido territorial oposto ao de Portugal.
Foi o seu envolvimento na guerra dos Trinta anos e sobretudo a Revolta da Catalunha, que exigiu uma enorme mobilização, para os quais também foram recrutados muitos portugueses.
Foi então que D. João, Duque de Bragança, que vivia em Vila Viçosa, deu o seu aval ao movimento. Aquele era o momento da oportunidade.
Na manhã de 1 de Dezembro de 1640, os Conjurados invadem o Paço de Lisboa e declaram a independência de Portugal e D. João como seu Rei.
Almeirim, jubilou com o conhecimento do facto e foi das primeiras Vilas a aderir ao movimento.
Em Janeiro de 1641, reúnem-se Cortes em Lisboa e D. João IV é formalmente aclamado Rei de Portugal.
Seguir-se-á a guerra da Restauração, com muitas escaramuças fronteiriças e a batalha do Montijo (Badajoz) em que tivemos uma vitória redutora.
O facto de D. João IV ser um homem muito poderoso e de ter um exército próprio, foi determinante para a nossa independência, pois em Portugal nessa época tudo faltava, nem sequer cavalos tínhamos, pois tinham sido exterminadas muitas coudelarias.
Quando salientamos o “espírito de Almeirim” é porque nessa época foi efectivamente necessário encontrar toda uma vontade colectiva, que tinha na sua base o sentimento patriótico, para conseguir vencer todas as inúmeras adversidades e manter a revolução vitoriosa.
Foi feito na época o lançamento da “dizima”, um imposto que obrigava a todos pagar 10% dos seus rendimentos para a salvação da pátria e não há nenhum indicador histórico, de que esse imposto tenha provocado qualquer mal estar.

Em 1643 D. João IV está em Almeirim, pois são registadas ementas reais de banquetes no Paço Real.
Almeirim tinha sabido manter o seu nobre estatuto de Vila Real de Portugal.

O reconhecimento espanhol da independência nacional, só veio a ser formalizado pelo tratado de Lisboa em 1668 e assinado pelo Rei de Espanha Carlos II e pelo Rei de Portugal, D. Afonso VI.
Entretanto o reinado de D. João IV, fora uma sequência heróica de inúmeras conquistas, na recuperação dos territórios portugueses de além-mar, que nos iriam permitir manter a nossa independência.

O distanciamento real da 3ª Dinastia - História de Almeirim (12)


Filipe II, depois da vitória da batalha de Alcântara, apressa-se na reunião de Cortes para a sua aclamação como rei de Portugal.
Nomeia entretanto, Filipe Terzi e Juan Herrera como arquitectos das obras do Paço de Almeirim, com o objectivo de aqui se poder instalar. Estes porém não conseguem obter as plantas do Paço, numa demonstração inequívoca de boicote, à instalação de Filipe em Almeirim.

D. António Prior do Crato, tinha partido para Inglaterra e preparava novas investidas na sua luta pelos direitos ao trono português, agora com o apoio da rainha britânica Isabel I e também com a simpatia da rainha de França Catarina de Medicis.
O povo mantinha-se fiel a D. António e havia expectativa quanto à sua acção.
Almeirim mantinha o estatuto de Vila real e centro da acção politica portuguesa. Mas os que aqui permaneciam eram os fiéis aos candidatos ao trono portugueses, ou seja a Catarina de Bragança ou a D. António de Portugal (Prior do Crato).

Filipe nunca ousou enfrentar esse “Espírito de Almeirim”, preferindo sempre a técnica dos favorecimentos e do suborno.

Filipe resolve então convocar as Cortes para Tomar, em 1581, onde obtivera o apoio da Ordem de Cristo, a mais importante organização religiosa-militar de todo o país.
São avultados os investimentos feitos no Convento de Cristo, para receber as Cortes e o novo rei.
Muito ouro vindo da América, gastou Filipe para conseguir ser Rei de Portugal. Também o imponente exército espanhol comandado pelo Duque de Alba, mantinha-se em Portugal, como garantia de intimidação às resistências nacionalistas.
Depois da sua aclamação nas Cortes de Tomar, Filipe segue para Lisboa, onde permanece e lança a ideia de que reinará a partir da cidade portuguesa.

O novo Rei, também não regateou despesas para a conservação e restauros no Paço de Almeirim. Mas nunca chegou a permanecer nele e o mais perto que esteve, foi já no ano de 1582, quando se encontrou com a sua irmã D. Maria viúva do Imperador da Áustria, Maximilano I, no Convento da Serra.
Não deixa de ser surpreendente este facto do encontro ter decorrido naquele lugar e não no Paço de Almeirim, onde muito provavelmente a Imperatriz D. Maria, teria estado instalada. A justificação estará certamente na relutância de Filipe, em enfrentar os seus opositores, que permaneciam em Almeirim.

Também foi no ano de 1582, que se procedeu à transladação dos restos mortais de D. Sebastião, precisamente do Convento da Serra, para os Jerónimos em Lisboa.
Este facto, teve como principal objectivo, desmistificar a crença de que D. Sebastião não teria morrido e terminar com a sequência de falsos párias, que foram surgindo querendo-se fazer passar pelo jovem rei morto em terras do norte de África.

As promessas de Filipe I, de fazer de Lisboa a sede do seu Reino, também a de manter a autonomia portuguesa, na governação nacional e dos territórios de além-mar, foram progressivamente entrando no esquecimento.
Seu filho Filipe II ainda demonstra alguma preocupação quanto ao Paço de Almeirim ao atribuir-lhe verbas suficientes para a sua recuperação. Mas apesar de ter estado em visita à região no ano de 1619, não há notícia de em Almeirim ter estado.

Os Nobres que permaneceram em Almeirim, nomeadamente os partidários de Catarina de Bragança e todo o povo, mantiveram o ideal nacionalista, durante todo o período de governação dos Filipes.
A terceira dinastia marcou assim um distanciamento da Vila Real, não por alheamento ou desinteresse dos governantes, simplesmente por diplomacia ou habilidade política.

Esse período marca também os primeiros destacamentos da Coutada Real ( reinado de Filipe II) e os primeiros aforamentos ( Foral Velho) na zona da estrada da Santinha ( estrada de Coruche) e ainda o descoutamento de todos os terrenos de aluvião da Vala Velha.

A personificação do Espírito de Almeirim. D. António Prior do Crato – História de Almeirim (11)


As Cortes de Almeirim foram marcadas por diversas afrontas ao nacionalismo português.
Só os representantes da alta nobreza, puderam pernoitar na Vila de Almeirim.
Os representantes do Povo e também alguns do Clero, tiveram de se instalar em Santarém.
D. António Prior do Crato foi impedido de entrar em Almeirim e perseguido pelas tropas reais.
Foi afixada nas portas do Paço de Almeirim, um mandato real para a sua prisão.
D. António estava em primeiro lugar na sucessão do trono e merecia o apoio popular com toda a racionalidade.
Tal como os outros candidatos, D. Catarina de Bragança e Filipe II de Espanha, era neto do Rei D. Manuel I.
Era filho de D. Luís, irmão do Cardeal Rei.
Filho bastardo segundo o Cardeal, mas legitimo segundo o seu pai, que o tinha perfilhado e velado pela sua educação e formação.
D. Luís tinha trazido este seu filho único para Almeirim, onde passou toda a infância e juventude, recebendo uma educação cuidada, durante o reinado de D. João III.
O oposição do Cardeal, à candidatura de D. António, relevava da sua mentalidade eclesiástica fanática e toda a influência dos seus amigos da ordem Jesuíta.
Também dos nobres pró castelhanos.
D. António era filho de uma nova-cristã, ou seja de uma judia convertida ao cristianismo.
Este facto que causava a repugnância do Cardeal Rei, era também no sentido contrário, o que dava mais garantias ao Povo, pois ele não tinha pela sua ascendência maternal, qualquer ligação de interesse com a Espanha.

D. António era Infante de Portugal e tinha sido sempre um leal ao seu sobrinho D. Sebastião, tendo inclusive participado na batalha de Alcácer Quibir, onde foi feito prisioneiro e posteriormente resgatado após pagamento de uma elevada soma de dinheiro.

Expulso de Almeirim, D. António prior do Crato passa a Santarém.
No final do mês de Janeiro de 1580, morre o já há muito senil e moribundo Cardeal Rei.
Quando se anuncia a morte do Cardeal, o “espírito de Almeirim” atravessa o Tejo e o povo também.
D. António Prior do Crato é aclamado Rei em Santarém.
O povo cantou…
Viva El-rei D. Henrique
No Inferno muitos anos,
Por deixar em testamento
Portugal aos Castelhanos!

D. António avançou então para Lisboa, depois de obter esta aclamação em Santarém.
O povo de Setúbal reúne-se para apoiar o novo Rei aclamado.
No Porto, em Coimbra e em todo o Minho, o povo sai à rua para com regozijo o apoiar.
São muitos que do norte se metem ao caminho para o vir ajudar.
O povo de Lisboa recebe-o com alegria, apoio e simpatia. É também aí aclamado.
Muitos são os nobres que fogem para Espanha e apelam à intervenção de Filipe II.
Este tinha agora um motivo, para invadir Portugal.
Vir em defesa desses nobres, muito mais interessados na defesa dos benefícios e privilégios, do que em dar resposta ao nacionalismo popular.
Filipe II, envia para cercar Lisboa um enorme exército de 30.000 homens, chefiado pelo prestigiado Duque de Alba. Faz ainda sair de Málaga uma frota de cerca de 100 navios de guerra para apoiar este exército no cerco de Lisboa.
D. António prior do Crato, que não tinha tido tempo nem meios para preparar convenientemente nenhum exercito, enfrenta com um grupo de patriotas e trava com os espanhóis a batalha de Alcântara.
Ferido nessa batalha, não consegue resistir ao muito maior poderio militar dos invasores e é levado para Santo Antão do Tojal, onde se cura dos ferimentos.
Segue-se depois numa atitude de total determinação, uma longa e impressionante luta pelos seus direitos.
É uma das páginas mais dignas da história portuguesa, mas também uma das mais frustrantes.
É uma história grandiosa esta luta de D. António Prior do Crato, que deveria orgulhar todos os portugueses, mas que não é este o contexto para a contar.
Fica apenas a referência que D. António, em todos os anos em que não deu tréguas a Filipe II e com isso manteve acesa a esperança nacionalista do povo português, teve apoios significativos de Inglaterra e França, para a sua causa.
A célebre ” armada invencível” que Filipe II, enviou contra Inglaterra e que foi irremediavelmente derrotada, tem também como motivação este apoio britânico à causa de D. António Prior do Crato.
O último espaço do território nacional onde se manteve o “espírito de Almeirim”, foram os Açores e em particular a ilha Terceira, onde se travaram varias batalhas entre D. António Prior do Crato e a frota espanhola, que tudo fez para tentar evitar subjugação à corte espanhola.

Filipe II, sai vitorioso desta luta pela soberania portuguesa e quando das Cortes de Tomar, que o consagram como Rei dos portugueses, é-lhe atribuída a seguinte frase, referindo-se ai Reino de Portugal :
“Herdei-o; Comprei-o e Conquistei-o”

D. António foi o último descendente da dinastia de Avis.
Um digno herdeiro dessa linhagem, que construiu uma Nação.
A sua luta por essa identidade nacional irá manter acesa a chama do nacionalismo português, que a partir da revolta de 1 Dezembro de 1640, irá mobilizar novamente o povo e os nobres patriotas portugueses.
O “espírito de Almeirim” irá sair vencedor e Portugal seguirá o seu rumo histórico, com independência, até aos nossos dias.

O “Espírito de Almeirim”, origem e significado - História de Almeirim (10)


Com vinda de D. Sebastião para Almeirim, fugindo das intrigas e jogos de poder, para daqui governar, o povo associou esta ligação e o “espírito de Almeirim” passou a estar intimamente ligado à identidade de um povo, como essência de uma governação autónoma e independente, que tinha naquele jovem Rei o seu principal símbolo.

A campanha de África foi toda ela preparada em Almeirim, de uma forma precipitada dada a ansiedade real.
D. Sebastião morre durante a batalha de Alcácer Quibir no ano de 1578.
É aclamado Rei o Cardeal D. Henrique, que não tendo filhos e sendo já septuagenário, desde logo coloca a questão da herança do reino.
Essa questão motiva a convocação das Cortes de Almeirim do final do ano de 1579 (1ª fase) e Janeiro de 1580 (2ª fase).

Só a existência deste “espírito de Almeirim”, justifica a escolha do local das Cortes de 1579 e de 1580, para decisão do futuro de Portugal.
Não foi apenas a necessidade de fugir de Lisboa em consequência da peste, que nessa época vitimou mais de 25.000 portugueses, pois outros lugares haveria, para decidir tão importante questão nacional.
A decisão teria de ter o apoio do povo e só em Almeirim, se poderia encontrar uma solução conciliatória com o “espírito de Almeirim” ou destruir para sempre esse mito popular.

Este “espírito de Almeirim”, pela qual continuaremos a identificar o nacionalismo português, teve na época muitos traidores e dois defensores destacados.
Febo Moniz, como Procurador de todo um Povo e D. António Prior do Crato, herdeiro preferido da grande maioria da população.
A razão de ser deste espírito patriótico e nacionalista estar mais enraizado no Povo do que na Nobreza e no Clero, tem uma lógica de fácil explicação.
A mesma explicação servirá para compreender o protagonismo de D. António Prior do Crato e a sua preferência nas escolhas do povo.

Duas razões estão na base da divisão entre os Nobres, na questão da independência nacional.
A primeira porque havia a tradição de aproximação e entrosamento familiar entre as famílias nobres, portuguesas e espanholas, através de acordos de casamento.
Nestes acordos eram frequentes a transferência de regalias e de direitos num ou noutro país.
Os filhos desses casamentos estavam assim numa perspectiva da defesa dos seus privilégios acima da noção de Nação, pois poderiam vê-los garantidos por ambos os Reis.
O Cardeal D. Henrique era Rei de Portugal, mas simultaneamente neto dos Reis Católicos, sujeito por consequência a uma influência pela sua família e de pressões de muitos, que defendiam os interesses de Espanha.
Muitos eram assim os Nobres, que tinham diluído o sentimento nacionalista pela via familiar.
No Clero a mesma coisa.
Por um lado a generalidade dos dirigentes clérigos eram nobres e por consequência tinham a mesma forma de encarar o nacionalismo da forma esbatida, como tentei explicitar.
Por outro lado estavam sujeitos à autoridade do Papa, que com muita frequência defendia com mais fulgor os interesses de Espanha do que de Portugal.

O grande depositário do sentimento patriótico e nacionalista, era assim o Povo, que recordava os seus ascendentes mortos nas batalhas pela independência e tinha saudade dos seus familiares, que em nome de Portugal garantiam a soberania dos territórios espalhados pelo mundo.

As motivações pró-castelhanas, eram estimuladas pela generosidade de Pedro Girão e Cristóvão de Moura, fidalgos portugueses ao serviço do Rei de Espanha, que ofereciam favores e promessas a todos os que apoiassem a causa de Filipe.
Diz-se que nessa época estes dois homens, gastaram verdadeiras fortunas ao Rei de Espanha, na compra da preferência de fidalgos portugueses.

Febo Moniz, foi assim a voz do povo, ao defender com veemência, como inaceitável, uma decisão de escolha de um estrangeiro, como sucessor real.
A sua coragem, a clareza da sua mensagem e a sua determinação fazem dele um herói de destaque nacional.
Ele expressou naquelas Cortes, a vontade de todo o povo, de preservar o “espírito de Almeirim”.

“ que Vossa Alteza oiça o povo e se tiver direito de eleger, eleja Rei português, porque sendo castelhano não será recebido nem obedecido ”

O “espírito de Almeirim”, não foi derrotado nas Cortes de 1580, pois nunca chegaram a deliberar sobre a sucessão da coroa portuguesa.

O já senil Rei Cardeal, morre em Almeirim a 31 de Janeiro de 1580 e fica sepultado na Capela Real, ou de Santa Maria.

Novo impulso Tauromáquico - História de Almeirim (9)


Alguns historiadores referindo-se a D. Sebastião, afirmam que a sua paixão pelas lides tauromáquicas foram iniciadas ainda muito jovem e teria feito essa aprendizagem na zona de Sintra.
A dedução lógica não é essa, pois da leitura e interligação de outros factos históricos, facilmente se conclui que foi no Paço de Almeirim, que D. Sebastião se iniciou como toureiro.
Passemos então á narração de alguns desses factos.
D. Duarte de Bragança, filho do Duque de Guimarães e de Infanta Dona Catarina, nasceu em Almeirim no ano de 1541.
D. Duarte era um exímio cavaleiro e dedicava-se á lide e morte de toiros em recinto fechado, que na época já se apelidavam de toiradas.
Ele foi o instrutor de seu sobrinho que também se chamava D. Duarte, futuro Marquês de Frechilla. Essa instrução aconteceu em Almeirim, pois era aqui que facilmente se encontravam as melhores condições para a aprendizagem tauromáquica, uma vez que as rezes facilmente eram capturadas na Coutada e conduzidas para a Vila para serem lidadas.
O Marquês de Frechilla é na história da tauromaquia uma personagem destacada, porquanto foi o primeiro a tourear a cavalo de frente para o toiro e a matar com rojão. Ficaram célebres as suas actuações na Plaza Mayor de Madrid, nas grandes festividades organizadas por Filipe II, que viria a ser também, rei de Portugal.
As datas desta aprendizagem, coincidem com a instalação de D. Sebastião em Almeirim, com 14 anos de idade, o que veio dar luz a toda esta questão.
Existe a grande probabilidade de D. Sebastião, ter tido como Mestre da equitação tauromáquica, D. Duarte de Bragança, que era seu parente.
A verdade indiscutível é que no reinado de D. Sebastião, que instalara a Corte em Almeirim a tauromaquia teve um notável impulso e transformou-se num espectáculo popular.
D. Sebastião manda construir a Praça de Toiros de Xabregas, em Lisboa e são muitas as noticias da transumância de toiros bravos, desde a Coutada Real até essa praça, como também dos muitos festejos realizados em Almeirim.
O Rei reconhecia o interesse das lides tauromáquicas na preparação dos fidalgos para a guerra e não podemos esquecer que foi em Almeirim que se preparou a campanha de África que preenchia a mente do jovem rei, que se julgava predestinado na missão de combater os infiéis no Norte de África.
Há um episódio narrado em diversos documentos, que deixam perceber esta relação entre D. Sebastião e D. Duarte de Bragança. Em determinado momento D. Sebastião teria sido acometido de ciúmes pelo prestígio de cavaleiro tauromáquico e pela popularidade de D. Duarte de Bragança. Por este facto não o convidou para uma corrida de toiros que organizou na Praça de Xabregas. D. Duarte ficou ofendido com a atitude e retirou-se para Évora, deixando Almeirim e não mais se relacionou com o Rei.

Em Espanha Carlos V, também era um grande aficionado à tauromaquia e chegou a convidar D. Sebastião para alguns desses festejos e a tourearem juntos.

A última toirada onde D. Sebastião actuou foi em Cadiz, na recepção que Filipe II lhe prestou, antes do embarque para a campanha africana. Estes festejos de Cadiz constituíram um importante acto diplomático do Rei de Espanha e de Nápoles, que justificou através desta homenagem o apoio ao Rei português e simultaneamente a sua não participação na campanha de Africa, para a qual chegou a confirmar a sua colaboração.

Capital do Reino - História de Almeirim (8)

Garcia de Resende narra em verso, no livro «Miscelânea»…
” Grutas, buracos fazia / A Terra se abriu / Água e areia saía / Que enxofre fedia / Isto em Almeirim se viu ”
É uma narração do terramoto de 1531, que atingiu a região de Santarém e Almeirim.
Há notícias de muitas vítimas e de grandes estragos.
O Paço Real é fortemente afectado e sofre graves destruições, que prontamente o rei manda repor fazendo-se as obras necessárias para continuar a ser residência da Corte.

Mas o mais grave acidente histórico que aconteceu em Almeirim, foi a morte do príncipe herdeiro D. João, em 1544, que muitos autores afirmam que foi devido a queda de cavalo, mas que aparece na Cronologia de Almeirim como sendo devida a diabetes.
O Príncipe D. João, tinha-se casado com Joana de Áustria, irmã de Carlos V.
Morre sem nunca ter conhecido seu filho, D. Sebastião.

D. João III, morre no ano de 1557. Tinha o seu neto, D. Sebastião, apenas três anos de idade.
É nomeada regente do Reino, primeiro sua viúva Dona Catarina e posteriormente seu irmão o Cardeal D. Henrique.

Este foi um período conturbado em que se disputavam dois partidos, de muitos nobres e do povo, que pretendiam que a Regência fosse de D. Catarina, outro partido onde dominava a força dos Jesuítas, que defendia que fosse Regente, o Cardeal D. Henrique.
Todas estas lutas palacianas, decorreram em Lisboa, portanto fora de Almeirim.
A inépcia do Cardeal e sobretudo a sua dependência para com os Jesuítas, originaram dois factos que se iriam revelar particularmente importantes na evolução dos acontecimentos futuros.
O primeiro, foi a decisão de entregar a educação de D. Sebastião aos Jesuítas e em particular ao Padre Luís Gonçalo da Câmara.
Isto veio a ter uma influência muito intensa na mentalidade do futuro Rei.
Este foi consolidando, uma tendência psicológica para extremismos, que eram expressos em duas dicotomias de expressão de personalidade, ora de excessos e radicalismo religioso, ora de protagonismo de herói missionário.
D. Sebastião foi educado, como sendo um homem que tinha uma missão a desempenhar ao serviço de Deus e num quadro de uma época de grande fanatismo religioso.
O segundo, foi a decisão das Cortes de dar a maioridade a D. Sebastião quando este tinha apenas 14 anos de idade, que foi a forma encontrada de retirar o poder ao Cardeal, que cada vez se apresentava mais dependente da ordem Jesuíta.

De tudo isto resultou a aclamação do jovem Rei D. Sebastião, que pela sua educação revelou imediatamente uma personalidade forte, não querendo ser influenciado e muito menos dominado por nenhum grupo ou partido.
Para evitar as lutas de intriga lisboetas, escolhe Almeirim para instalar a sua Corte. Trás inclusivamente os Tribunais.
Almeirim era agora, a verdadeira capital do Reino.

Projecção internacional. História de Almeirim (7)


O Príncipe, os Infantes e as Infantas, filhos de D. Manuel I, passaram longas temporadas da sua infância e juventude no Paço de Almeirim. Foi assim natural a preferência que sempre demonstraram para com Almeirim, todos eles, mas particularmente de D. João III, que foi aclamado Rei no ano de 1521.
Ó primeiro grande acontecimento de importância internacional que teve lugar no Paço de Almeirim, foi o casamento por procuração, da Infanta Dona Isabel, irmã do rei, com o Imperador Carlos V.
Este é um acontecimento de enorme relevo histórico, pois pretendendo-se consolidar com ele uma paz duradoira com a Espanha unificada, ele será a base da crise da independência de 1580.
Mas é um acontecimento de grandioso fausto, que trouxe a Almeirim os mais altos representantes políticos e religiosos da época.
É no âmbito das comemorações em Almeirim, deste importante acordo matrimonial entre o Rei português e o mais poderoso Imperador daquele período histórico, que se fazem as representações de Gil Vicente e também acontece o momento de singular significado, pela recepção de D. João III ao camareiro e representante formal do Papa Clemente VIII.
Almeirim atinge uma enorme projecção internacional.
Portugal afirmava-se na politica mundial como um Império, colonizador e divulgador da cultura e da religião. Almeirim assumia-se como centro desse Império e adquiriu o prestígio inerente.

Tudo isto levou a uma nova dinâmica desenvolvimento.
Começam a atribuir-se mercês de terras para instalação de fidalgos e de serviçais, que irá aumentar o povoamento local.
Consolida-se a presença dos Monjes Dominicanos instalados no Convento da Serra e que recebem por alvará, a Capela dos Paços da Ribeira de Muge ( Paços dos Negros).
É fundada a Confraria de S. Sebastião e S. Roque, destinada a socorrer as viúvas de fidalgos e cavaleiros pobres, mortos ao serviço do reino.
È construído o Hospital de Nossa Senhora da Conceição.
É fundada a Santa Casa da Misericórdia de Almeirim, por iniciativa do próprio Rei.
É criada a Feira franca de S. Roque.
O primeiro senso populacional de Almeirim é desta época (1532) e regista já 490 habitantes.

As primeiras Cortes de Almeirim decorrem no ano de 1544. Elas irão confirmar o príncipe João, filho primogénito do Rei, como herdeiro do trono.
Essas Cortes decorrem num Pavilhão construído para o efeito, na “Horta real”.

São ainda muitos os acontecimentos que se registam durante o reinado de D.João III, que atestam o significado e a relevância de Almeirim em todo esta época.
Nascimentos de familiares do Rei e falecimentos de servidores da Corte, alguns deles que ficaram sepultados, ora nas Capelas dos dois Paços Reais, ora nas Capelas dos Conventos. Também o facto de S. Francisco Xavier, ter rezado as suas orações na Capela de S. Roque, antes de partir para a Índia.

Mas esta época, do reinado de D. João III, não foi apenas uma fase de prosperidade e de progresso.
Em Almeirim, irão ter lugar dois acontecimentos dramáticos, de que falaremos no próximo capítulo.